O ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde) foi demitido nesta
quinta-feira (16) pelo presidente Jair Bolsonaro, após um longo
processo de embate diante das ações de combate ao coronavírus.
O presidente convidou o oncologista Nelson Teich para assumir o lugar de Mandetta.
Na última quarta-feira (15), em uma entrevista em tom de despedida ao
lado de sua equipe, Mandetta afirmou haver descompasso com o Palácio do
Planalto e indicou a sua demissão como certa.
Mandetta voltou a defender a manutenção do caminho da ciência, em uma
crítica indireta às pressões que sofre do presidente, contrário ao
isolamento social e defensor do uso de medicamento sem eficácia e
segurança comprovadas.
Bolsonaro vinha batendo de frente com seu auxiliar e, nos últimos dias, deu celeridade à busca por um substituto.
Desde o início da crise, Bolsonaro tem ignorado orientações
sanitárias, sem demonstrar preocupação com a crise do coronavírus, e ao
mesmo tempo pressiona governadores e prefeitos a abrandar a política de
isolamento social. Já Mandetta é crítico da aglomeração de pessoas e
defensor do isolamento horizontal, em linhas com a OMS (Organização
Mundial da Saúde) para evitar o contágio do novo coronavírus.
Mandetta avisou sua equipe na noite desta terça-feira (14) que
Bolsonaro já procurava um nome para o seu lugar. O ministro conversou
com integrantes da pasta em clima de despedida e avisou que combinou de
esperar a escolha do substituto.
Mandetta afirmou a interlocutores que cometeu um erro ao dar a
entrevista ao Fantástico, da TV Globo, no último domingo (12), com uma
série de críticas indiretas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e
reconheceu que, diante disso, seu cargo está novamente ameaçado.
Depois de escapar na semana passada de uma demissão que muitos
consideravam certa, o ministro foi avisado que sua saída do governo
federal voltava a ser uma possibilidade nos dias seguintes.
Além da visível perda de sustentação entre os militares, que
consideraram o tom da entrevista um ato de insubordinação, Bolsonaro
levou em conta que até mesmo alguns líderes do Congresso criticaram o
tom adotado na entrevista do ministro.
A falta de fortes mobilizações nas redes sociais em defesa do titular
da Saúde também foi lida pelo presidente como uma brecha para efetuar a
demissão.
Na entrevista à TV Globo, domingo, Mandetta disse que a população não
sabe se deve seguir as recomendações do Ministério da Saúde (favorável
ao isolamento social) ou de Bolsonaro (crítico de medidas como o
fechamento de comércios, por exemplo).
Justamente essa insistência em bater de frente com Bolsonaro custou a Mandetta o apoio da ala militar no Palácio do Planalto.
A avaliação foi a de que o ministro desprezou o esforço do núcleo militar para que ele fosse mantido no cargo e está preocupado apenas com a sua imagem pública, em uma tentativa de se candidatar a governador de Mato Grosso do Sul em 2022 -Mandetta vinha dando seguidos sinais de enfrentamento ao presidente desde a ameaça de sua demissão na semana passada, sendo a entrevista o último deles.
O descontentamento do grupo fardado ficou evidente nesta terça-feira (14) com uma declaração do vice-presidente, general Hamilton Mourão. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Mourão afirmou que o ministro da Saúde cometeu uma falta grave na fala à TV Globo.
"Cruzou a linha da bola, não precisava ter dito determinadas coisas", afirmou o vice. Mourão, no entanto, avaliou que o melhor seria o presidente não demitir o auxiliar neste momento.
Durante a segunda-feira, Mandetta conversou com aliados. Justificou que decidiu dar a entrevista porque ficou irritado com o comportamento de Bolsonaro no sábado (11), durante uma visita a obras de um hospital de campanha em Águas Lindas de Goiás (GO).
Na ocasião, o mandatário mais uma vez ignorou orientações das autoridades sanitárias e promoveu aglomerações -o titular da Saúde acompanhou a cena de longe.
Foto: Reprodução Youtube Oncologia Brasil

Pela falta de afinidade com Mandetta, Bolsonaro chegou a cogitar a
sua substituição em setembro do ano passado, mas desistiu ao constatar
que ele tinha amplo apoio junto ao setor da saúde.
No início da pandemia do coronavírus, o presidente se queixou ao
ministro de que ele deveria defender mais o governo e o repreendeu por
ter participado de uma entrevista ao lado do governador de São Paulo,
João Doria (PSDB), adversário político de Bolsonaro.
Mandetta modulou sua retórica e passou a pregar a importância de a
atividade econômica não parar. Ele, no entanto, não se dobrou à pressão
do presidente contra a medida de isolamento social, o que iniciou o
embate entre ambos.
A crise com Mandetta abalou Bolsonaro. Segundo assessores
presidenciais, pela primeira vez desde que assumiu o cargo, o presidente
receou estar perdendo capital político ao constatar que parte da base
bolsonarista nas redes sociais apoia o ministro. Nas últimas semanas,
Bolsonaro chegou a afirmar que falta humildade a Mandetta e que ele
extrapolou.
Fonte: Folhapress
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