quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Escolinhas de Futebol: um drible nas drogas. Eu acredito nessa ação.

Foto:  Leo Vilar
cenário são comunidades carentes onde as drogas e a criminalidade ainda batem à porta das famílias. Em um mundo tomado pela violência, a busca por um futuro melhor parte de incentivos que devem acontecer ainda na infância. O futebol, como instrumento de transformação social, é uma dessas fagulhas que despertam para a busca de um futuro positivo.

E um bom exemplo de como o esporte tem o poder de resgatar crianças e adolescentes da criminalidade são as Escolinhas de Futebol da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (Semel), da Prefeitura Municipal de Teresina. Ao todo, são 50 unidades que atendem a 3 mil garotos entre 7 e 17 anos em diversos bairros da capital.Além de desenvolver o amor ao esporte em pleno país do futebol, o projeto possui um viés socioeducativo, em que as notas na escola importam e a saúde também. As crianças têm a oportunidade de melhorar a sociabilidade, conduta e buscar sonhos e mudanças de vida.
No bairro Planalto Uruguai, zona Leste de Teresina, há uma das mais tradicionais escolinhas da capital, a Escolinha de Futebol do Planalto Uruguai. São cerca de 100 meninos atendidos, onde muitos estão em vulnerabilidade social e contam com o lanche servido após os treinos, realizados no campo de futebol do bairro.
À frente da escolinha, que completou 21 anos em julho, está o professor Amarildo Mendes da Costa, um verdadeiro apaixonado por futebol. Com a bola no pé e um ensinamento na cabeça, ele aponta novos caminhos aos garotos que buscam novas oportunidades de vida em campo.
Famílias sentem a diferença em casa
Quem passa pela escolinha de futebol aprende não apenas sobre futebol, mas melhora seu comportamento de um modo geral. Os pais são unânimes em admitir a mudança de comportamento dos filhos em casa. A exemplo de Carlos Antônio Santana, pai do Yasllan, de 11 anos. O garoto diagnosticado com hiperatividade encontra no futebol uma oportunidade de impulsionar o tratamento.
Foto:  Leo Vilar
“Trouxe ele em dezembro, ele já jogava em outra escolinha, mas aqui Yasllan se desenvolveu mais. Ele gosta do professor e isso conta muito. O futebol melhorou muito a hiperatividade dele, tanto que hoje ele não anda brigando, falando palavrão”, conta.Yasllan Rocha, de 11 anos, afirma que o horário de ir para a escolinha é a melhor hora do dia. “Jogar bola é muito bom. A escolinha é muito boa. Eu me sinto bem e já participei da copa sub-11, gosto do professor porque ele nos ensina muito bem a jogar bola”, conta o garoto. Jefferson Kauan, de 10 anos, conta que o professor ensina as boas práticas em campo. “Não pode xingar, quebrar, botar apelido. Aqui sou muito feliz porque posso jogar bola”, avalia.
A mãe de Jefferson, Deuzolita Santos, afirma que toda a família já foi beneficiada. “Três sobrinhos passaram por aqui e botei ele, porque só tenho ele de homem. Ele jogava futebol na rua e sabemos que hoje em dia é complicado. Ele melhorou muito na escola. Hoje em dia dá 20h da noite e está todo mundo dormindo lá em casa”, reconhece.
Projeto já atendeu a 2.500 crianças
 Foto: Leo Vilar
A Escolinha de Futebol do Planalto Uruguai já atendeu a 2.500 crianças do bairro e de comunidades próximas. Com os meninos em campo, ninguém tem tempo para entrar no mundo do crime ou mergulhar nas drogas. “O projeto começou com o Bom de Bola, que só pegava os bons jogadores e os ruins ficavam de fora. Eu passava para trabalhar e via os meninos parados, só assistindo, porque não tinha vaga para jogar. Então pensei em criar o projeto, com um time só de ‘perna-de-pau’. Começamos no campo de futebol society, mas depois que o outro professor desistiu passamos a jogar aqui no campo grande”, lembra o professor Amarildo Mendes.O projeto foi crescendo e Amarildo terminou largando o emprego para se dedicar integralmente à Escolinha. “Eu trabalhava na arquidiocese há nove anos, mas com a escolinha comecei a chegar atrasado. O padre na época reclamou das minhas correrias para a Semel e pediu para eu escolher. Então fiquei na escolinha e estou aqui até hoje, fazendo este trabalho social que gosto muito”, conta Amarildo.O professor conta que sentiu a obrigação de intervir na região do Planalto Uruguai. “Eu precisava ocupar esses meninos. Chegou a maldita droga e os meninos começaram a se envolver. Eu ia lá e tirava. Confesso que perdi, sim, muitos meninos para as drogas, mas acho que resgatei mais do que perdi, graças a Deus”, acrescenta.
Foto: Leo Vilar
Amarildo afirma que o trabalho é gratificante. “Fomos a única escolinha da prefeitura a ser campeã da Copa Sub 11, Sub 13 e Sub 15. Os pernas-de-pau ficaram bons. Fora outras classificações. Mas a maior conquista, o maior gol, é tirar esses meninos da droga. Queremos que eles façam 10 gols, mas também marquem 10 na matemática, no português...”, afirma Amarildo, que não deixa de puxar a orelha quanto às notas na escola.
O projeto já atravessa gerações. “Dos 2.500 alunos que passaram por aqui, temos filhos de ex-alunos que participam da escolinha. Temos seis meninos aqui que são filhos de ex-alunos. Para mim é minha felicidade. Minhas duas casas são a minha e a escolinha”, considera o professor Amarildo Mendes.
Escolinha forma jogadores profissionais de destaque
Paulo Vitor, hoje com 23 anos, começou uma carreira de sucesso no futebol profissional ali na Escolinha de Futebol do Planalto Uruguai. Com passagens no Fluminense do Piauí, Flamengo do Piauí e agora no Piauí Esporte Club, o jogador também está no sexto período de Educação Física.
O jogador não esconde a influência do mestre. “Desde o primeiro contato com o professor Amarildo percebo que ele sempre nos aconselha para o lado do bem e manter o futebol ligado ao estudo. Sempre cobrando muito as notas e comportamento em casa, tenho a certeza da forte contribuição para minha formação”, declara.O legado do esportista já tem brilho. “No futebol piauiense eu fui descoberto pelo Fluminense e fomos campeões no mesmo ano. Tive visibilidade e recebi o convite do Piauí Esporte Clube para disputar o último ano de sub-18, fui campeão e no mesmo ano subi para o profissional, onde fui vice-campeão da Copa Piauí. Logo em seguida fui para a Copinha, em São Paulo, então recebi o convite para ir para o Flamengo do Piauí”, conta Paulo Vitor.
Ex-aluno volta ao campo para ajudar professor
Foto: Leo Vilar
Gustavo Araújo, de 18 anos, passou por muita coisa na vida. Após se envolver com drogas e perder a mãe, o garoto entrou em depressão e estava no que chamam de “fundo do poço”. Mas Amarildo Mendes resgatou o garoto do sofrimento e lhe concedeu uma nova oportunidade de vida.O rapaz saiu da escola e começou a passar por dificuldades. “Comecei a andar aqui com 13 anos, mas aí dei depressão e comecei a ver tudo ruim na minha vida. O Amarildo me viu assim e me tirou de lá, hoje ajudo ele em campo e minha família, com o que recebo”, finaliza.
Fonte: http://jornal.meionorte.com/

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